segunda-feira, 29 de maio de 2017

O AMOR BATER NA PORTA

Cantiga do amor sem eira nem beira, 
vira o mundo de cabeça  para baixo, 
suspende a saia das mulheres, 
tira os óculos dos homens, 
o amor, seja como for, 
é o amor. 

Meu bem, não chores, 
hoje tem filme de Carlito! 

O amor bate na porta 
o amor bate na aorta, 
fui abrir e me constipei. 
Cardíaco e melancólica, 
o amor ronca na horta 
entre pés de laranjeira 
entre uvas meio verdes 
e desejos já maduros. 

Entre uvas meio verdes, 
meu amor, não te atormentes. 
Certos ácidos adoçam  a boca murcha dos velhos 
e quando os dentes não mordem 
e quando os braços não prendem 
o amor faz uma cócega 
o amor desenha uma curva propõe uma geometria. 

Amor é bicho instruído. 
Olha: o amor pulou o muro 
o amor subiu na árvore  em tempo de se estrepar. 
Pronto, o amor se estrepou. 
Daqui estou vendo o sangue que escorre do corpo andrógino. 
Essa ferida, meu bem, às vezes não sara nunca 
às vezes sara amanhã. 

Daqui estou vendo o amor irritado, desapontado, 
mas também vejo outras coisas: 
vejo corpos, vejo almas 
vejo beijos que se beijam
ouço mãos que se conversam  e que viajam sem mapa. 
Vejo muitas outras coisas que não ouso compreender... 

Carlos Drummond de Andrade, in 'Brejo das Almas'
Foto (internet) 

quarta-feira, 10 de maio de 2017

AMOR MEU ETERNO AMOR

Tudo aconteceu tão rápido não? Quem diria que aquela conversa boba um dia se tornaria algo tão grande e especial. Não sei explicar direito o que aconteceu, não sei descrever isso. 
Só sei que um sentimento que toma conta de mim, um carinho bom, um carinho que conforta. 
Nunca imaginei que um dia alguém ia conseguir me aturar por tanto tempo. Afinal 4 anos e 9 meses não é tão pouco tempo assim.
Dentro desse período você me ensinou o que é o amor, me mostrou que ainda existe motivos que fazem a vida valer a pena. 
Passamos por cada problemas mas superamos. 
Tivemos nossas brigas, bem poucas acho que nenhuma,
Nunca desistimos, quer dizer, você nunca desistiu de mim. 
Obrigada por tentar me fazer feliz, obrigada por tirar um sorriso meu todo os dias quando lembrava de nossos momentos. 
Seu jeito de falar me fascina; 
Quando você me chama de tola e ao mesmo tempo de bibelô e quando vem me zoar porque o Flamengo perdeu, tudo isso me encantava, você por completo me faz feliz. 
Obrigado por me mostrar que eu ainda sei amar.”
 (PS. Eu Te Amo)

O MAIOR TREM DO MUNDO

O maior trem do mundo
leva minha terra
para a Alemanha
leva minha terra 
para o Canadá 
leva minha terra 
para o Japão.

O maior trem do mundo
puxado por cinco locomotivas a óleo diesel 
engatadas geminadas desembestadas 
leva meu tempo, minha infância, minha vida
triturada em 163 vagões de minério e destruição.

O maior trem do mundo 
transporta a coisa mínima do mundo, 
meu coração itabirano. 

Lá vai o trem maior do mundo 
vai serpenteando vai sumindo 
e um dia, eu sei, não voltará 
pois nem terra nem coração existem mais. 

           Publicado no jornal O Cometa Itabirano, n. 69, ago/1984

terça-feira, 9 de maio de 2017

A UM AUSENTE

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

Carlos Drummond de Andrade

AS SEM RAZÕES DO AMOR

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 4 de maio de 2017

PODERIA DIZER MIL COISAS



Eu poderia começar dizendo que estou sentindo a tua falta, mas não é verdade.
Poderia dizer que estou com muita saudade, mas também não é verdade.
Afinal nem sei mesmo como começar a escrever se nem sei o que estou sentindo.
Sei lá! É uma mistura de sentimentos, tem horas que fico triste e pensativa nas poucas palavras que
você pronunciou, ai me ponho a lembrar nos seus gestos.
Gestos de descasos, de desprezos de não tô nem ai.
Fico lembrando dos meus gestos de carinho, de tentar fazer o melhor pra você e me colocando como uma idiota, como se precisasse deste amor para viver. Não, não pude ter me portado assim.
Fico lembrado de você rindo desdenhando de minhas lágrimas quando desabafava que nãos sentia mais seu amor.
Fico lembrando do seu olhar de distância quando falava da sua ausência e da falta que sentia dos teus carinho.
Não, não mesmo, definitivamente não, não era eu...
Não pude ter me tornado esta idiota, logo eu que sempre fui tão segura de meus sentimentos?
Não, não sou eu definitivamente decidi tomar rumo em minha vida.
Definitivamente eu não preciso e nem necessito mendigar sua atenção, muito menos seu amor
Foda-se, foda-se mesmo, pois eu tenho amor próprio, tenho dignidade, não preciso de ficar mendigando tua atenção.
Já deu o que tinha de dar, por mais que eu ame, você eu me amo ainda mais.
To nem aiii.