sexta-feira, 24 de agosto de 2018

A MONTANHA PULVERIZADA

Foto: Município Itambé - MG
Chego à sacada e vejo a minha serra,
a serra de meu pai e meu avô, 
de todos os Andrades que passaram 
e passarão, a serra que não passa.

Era coisa dos índios e a tomamos 
para enfeitar e presidir a vida 
neste vale soturno onde a riqueza 
maior é sua vista e contemplá-la.

De longe nos revela o perfil grave. 
A cada volta de caminho aponta 
uma forma de ser, em ferro, eterna, 
e sopra eternidade na fluência.

Esta manhã acordo e 
não a encontro. 
Britada em bilhões de lascas 
deslizando em correia transportadora 
entupindo 150 vagões 
no trem-monstro de 5 locomotivas 
— o trem maior do mundo, tomem nota —
foge minha serra, vai 
deixando no meu corpo e na paisagem 
mísero pó de ferro, e este não passa.

          De Menino Antigo (Boitempo-II), 1973

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